8.1.14

Blanche 29: Casórios

O domador de cavalos Dory e sua linda mestiça indígena (Brenda) se casarão provavelmente no próximo biênio, conjuntamente à irmã Criscia e Lucano, que já se vê com o corpo inteirinho feliz. É praxe da região, juntar casais num só conúbio. 
Aguardam ansiosos, a primeira menstruação da mirradinha morena Criscia, de longos cabelos serpenteados e atitudes quase infantis, sem a qual nenhuma púbere nefelibata é consignada ao noivo.
Alguém dentro da agradável e obstinada Brenda diz que viverá asperamente na rude estrebaria, ao passo que a futura cunhada, em graça maior, seguirá para a nova existência, como atendente a abrilhantar o armazém.
As festas de himeneus consistem na celebração religiosa exatamente ao por do sol de sábado, com valor civil. Um animado baile com músicos locais, no anexo da capela, começa quando o escuro traz emoções cortantezinhas.
Não há convidamentos, nem dádivas aos nubentes. Devido à função civil, ao festivo toque da sineta, cada clã obrigatoriamente envia seu principal membro masculino, com ou sem acompanhantes.
Serve-se bebida alcoólica artesanal e alimentos de época: pipocas, castanhas, abóboras (cosidas) com mel. O sacristão Karly vai aguando o recinto, para abrandar a poeirinha causada pelas botinas em terra nua.
Estes casórios são  raras ocasiões de encontro e festejo para os jovens da vila, que vivem em solidão profunda e vazia, quase árida. Jamais perdem a oportunidade, a menos que os malvados pais proíbam... 
Após horas de algazarra, mulheres desgrenhadas dormitam no piso da igreja e homens suados instalam redes no anexo, resfolegam até o primeiro alvejar da aurora; quando se retiram para assumir em pormenores, as tarefas rotineiras.
Alguns casais adolescentes, enamorados, apenas fogem, num silêncio de acordar o mundo, e se "amigam". Burlam todos os trâmites matrimoniais. Habitam a princípio, uma das invulgares cavernas esculpidas por indígenas, feitas camafeus emoldurando interrogações. 
Galgam um espinhoso período em total degredo, subsistindo de caça, pesca, insetos, folhas, raízes e amêndoas de palmeiras. Ao nascimento do pranteado bebê, legitimando a família, vão retornando paulatinamente à comunidade em apelo de paz, onde recebem guarida.
Ariadne, sua irmã Criscia e Brenda, a futura cunhada desta, eram as prestimosas alunas de Ingrid, Juntando-se a algumas mulheres casadas. As três mocinhas valeram-se de seu precioso auxílio para prepararem o artesanal enxoval de casamento da primeira. 
A competente professora, detém a máquina de costura do vilarejo: toda verde, alegre, uma tecnologia; alguém gira a manivela, enquanto ela manobra a peça a costurar. Arcaicamente, as outras mulheres cosem minuciosamente à mão, ponto por ponto. 
Por hora, as aliadas Criscia e Brenda encontram-se sós na idílica empreitada de seus enxovais, devido ao casamento de Ariadne, a mais experiente. Ingrid, perfeccionista, as segue proximamente, com orientações pontuais. 
As roupas “da noite”, introduzidas na vila por Ingrid, consistem em alva blusa manga longa, atada à cintura por fita, e calçola bordada presa sob o joelho, com um orifício circular na região interfemoral, para a drástica perda de virgindade. 
Na manhã seguida às núpcias, em embaraço descomunal, a calçola é exposta ensanguentada à janelinha do puxado (alcova) do novo casal. Caso a operação não se concretize nas primeiras noites ao tálamo, a aflição ataca os ansiosos familiares.
Não há lua de mel, tudo é rotina imediata; a nova vida das noivas em casa de sogros, faz-se ainda mais severa que aquela em solteiras, quando com coraçõezinhos esvaziados. Retribuem a dura paga feita em bens a seus lacônicos pais. 
Somente após o brotar de alguns mirradinhos bebês é que podem apartar cabana, no ansiado de seu viver, adquirindo desafrontada independência.
A venturosa Blanche se aloja em voo na montanha dos caprinos, porém oficialmente, seu lar é a estância da pradaria, juntamente à destemerosa família do “esposo”. 
Ela escapuliu ao fatídico ritual por não ser urbana, onde a regra se aplica mais estritamente. O fato de não possuir sogra, facilitou-lhe sobremaneira a vivência de eremita indomada, restando apenas Peter a tentar lhe "torear".

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