17.1.14

Blanche 42: Conjugação interfemoral

Neste tenro anoitecer de sexta-feira, enquanto Nick se banha ao regato (para o repouso), ouve ao longe, burburinho ralo de dois integrantes do grupo que ali se hospeda.
Intrigado, agiliza a assepsia e segue-os pela trilha em lusco-fusco. Após torcerem a curva, se aproximam das grandes pedrarias. O filetinho de lua branca começa a se acender com ajuda do vento leste. De súbito, haviam jornadeado quase meia hora pastagem afora.
À distância, Nick averigua em detalhes os gestos e o timbre de voz da dupla, pois não concebe sua língua. Num ímpeto, param encostados ao rochedo e as lhanas carícias de todo o percurso se intensificam abruptamente.
Blanche já lhe havia referido a prática de conjugação interfemoral entre os indiozinhos púberes, assim como o ato de inserir parcialmente a glande no prepúcio do parceiro, em circulares movimentos longos e leves.
Tais condutas, longe de serem promíscuas, levam à lealdade vitalícia entre o duo, em abnegação tão imprescindível numa sociedade tribal primordialmente caçadora e coletora, ainda que sedentária. Remete à alma corajosa e caráter viril, um amor transcendental.
Consubstanciando emoção e razão, já afastado da trilha, o espectador delira ante tão artística cena: a nua pele dourada entrelaçada sincronicamente em corpos esguios e formosos, numa escassa luz de penumbra.
Resguardado por este verniz noturno, deleita-se do momento como se com eles estivesse, sentindo os feromônios de cada gotícula sudorífera, fruindo cada toque e ruído sem a menor parcimônia, fervilhando também em ardor. 
Ao retornar, sempre por detrás do par, delibera com dentre si sobre sua inata condição peculiar, sua infinda paixão platônica pelo assex Tom. Sente-se culpado e assustado ao mesmo tempo em que o deseja carnal e veementemente... é humano afinal.
Na inequívoca sociedade indígena, os impulsos instintivos da expressão psíquica sofrem menos imperativos de valores sociais e não mantém reservatórios de energia sofreada. 
Quando Tom lhe enxergar, jamais poderão expor-se à intolerância ao diferente, presente de forma tão vivaz na aldeota. Todo o seu prestígio, sua força política e espiritual, seriam arranhados a fundo.

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