7.1.14

Blanche 28: O inferninho

As imensas e silenciosas pedras soltas naquele arruadinho chamado Riolama, constituem um exprobro a muitas construções, porém trazem uma viva e mística poesia ao vilarejo, entremeando excêntricas e aromáticas arvorezinhas retorcidas. 
A descida embirrada do regato chorão, num profundo e fininho rasgo rumo ao ardoroso rio, cria um cercamento natural, todavia em ocasião de chuvas caudalosas, torna-se de imediato, feroz e intransponível, deixando enclausurada a população.
Entronizado por todos, o Reverendo Albert, num constante suplício, tenta adstringir a região efervescente, estimulando cooperações, amenizando conflitos com os inimputáveis indígenas, formando parcerias que tornem a vida mais palatável. Suas fúcsias bochechas vão-lhe à frente.
Não vê com bons olhos a ardilosa aquisição daquele cantinho de pasto, feita por Helen para encarcerar “mulheres de uso”, sob pena de atrair má fama e forasteiros indesejáveis.
Embora o fogo no linguario das beatas não tenha ainda se alastrado, devido ao breve sigilo, quando a casa florescer, o bafafá ganhará quatro ventos, como num golpe de raios tempestuosos.
Mal empregado o nome, Tirania, uma vistosa índia mansa, tolerada na vila, vem a tempos prestando seus favores carnais numa caverna (uma "cratera" estranha), despencando no penedo longínquo.
Em passadas estradeiras, alguns homens imparáveis se dirigem sem pabulagem àquele ermo, em procura de Tirania. A paga rasa, sem quebrar o escuro da profissão, dava-lhe minguado sustento.
Quando na vila, a branca casela for erigida, com as ansiosas janelas azuis se chacoalharem no aguardo de fregueses, o paviozinho será aceso e não haverá aceiro que o contenha.
Por outro lado, os cruéis estupros rurais e raptos de cunhãs à borda da reserva podem vir a diminuir: os homens inuptos (e não só) terão um local propício para ganir em descarrego.
Com as pontinhas dos dedos acariciando o miolo de um belo girassol, Reverendo Albert aguarda o desfecho do inferninho, assim como quem aguarda a prontidão daquelas sementes, numa gula desvairada.
A carne e o espírito desfilam ali, num vai-vem esbarratório de pés embriagados, sem direito nem avesso, que Helen pretende apascentar com finas bebidas angariadas em Corda Bamba. Temperadinho no álcool, tudo é tolerância.
Blanche, inocente do caso, jaz numa intermitência entre o mundo branco e o indígena, e procura desdramatizar fatos que ocorrem cá e acolá, sendo ela própria esta mixórdia de culturas. Vagando em devaneios pelo terreiro, dá um pontapé num graveto de goiabeira...
Vai desamesquinhada, alastrando como ramas de batata-doce, a lancinante aceitação no equilíbrio da miscigenação, num lodaçal de intolerâncias. O obediente graveto rola translúcido, abandonando as folhinhas secas.

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